O USS Indianapolis, em 10 de julho de 1945 |
O navio USS Indianapolis havia entregado os
componentes cruciais da primeira bomba atômica operacional, em uma base
naval americana na ilha de Tinian, no Pacífico. Em 6 de agosto de 1945, a
arma arrasaria Hiroshima. Mas, voltemos a 28 de julho de 1945. Nesse
dia, o Indianapolis partiu de Guam, sem escolta, para juntar-se com o navio de guerra USS Idaho, no Golfo de Leyte, nas Filipinas, a fim de se preparar para a invasão do Japão.
O dia seguinte foi tranquilo, com o Indianapolis
navegando a cerca de 17 nós, cortando ondas de cincos a seis metros num
Pacífico aparentemente interminável. Com o pôr do sol abraçando o
navio, os marinheiros jogavam cartas e liam livros, alguns conversavam
com Thomas Conway, o capelão do navio.
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Quando o sol nasceu
em 30 de julho, os sobreviventes, numa tétrica coreografia, pareciam
bailar sobre as águas do Pacífico. Os botes salva-vidas eram escassos.
Os vivos, em busca de coletes salva-vidas para os que não tinham nenhum,
procuravam pelos mortos que flutuavam entre os escombros. Na esperança
de manter alguma aparência de ordem, os que escaparam da morte começaram
a formar grupos; uns pequenos, outros com mais de 300 marinheiros,
todos à deriva em mar aberto. Logo eles estariam lutando contra a
exposição ao sol, contra a sede e contra os tubarões.
As
feras foram atraídas pelo som das explosões, pelo naufrágio do navio e
pelo sangue dos mortos e feridos, que coloria o oceano, formando um
grotesco mosaico de vermelho e azul. Embora muitas espécies de tubarões
vivam em águas abertas, nenhuma é considerada tão agressiva quanto a do
galha-branca-oceânico. Os relatórios dos sobreviventes do Indianópolis,
indicam que os tubarões tendiam a atacar as vítimas vivas perto da
superfície da água, levando os historiadores a crer, que a maioria dos
ataques veio de galhas-brancas.
Na
primeira noite, os tubarões voltaram-se para os mortos, que flutuavam à
mercê das ondas. Porém, a luta pela sobrevivência só atraia mais e mais
galhas-brancas, que podiam sentir os movimentos dos sobreviventes
através de um recurso biológico conhecido como linha lateral:
ao longo dos corpos desses animais, existem receptores que captam as
mudanças na pressão e no movimento da água, mesmo a centenas de metros
de distância.
Quando os tubarões passaram a atacar os vivos,
especialmente os feridos com sangramentos, os marinheiros tentaram impor
uma quarentena, se afastando de qualquer companheiro com uma ferida
aberta; e quando alguém morria, eles empurravam o cadáver para longe,
sacrificando o corpo do amigo para se manterem longe da mandíbula de
um tubarão. Muitos sobreviventes ficaram paralisados de medo,
incapazes até de comer ou beber das parcas rações que tinham salvado do
navio. Um grupo de sobreviventes cometeu o erro de abrir uma lata de
fiambre, mas antes que eles pudessem sentir o gosto, o cheiro da carne
atraiu um enxame de tubarões para perto deles. Eles se livraram de suas
rações de carne ao invés de arriscar uma disputa com as bestas.
Os
tubarões saciaram-se por dias, sem nenhum sinal de resgate para os
desafortunados homens. A inteligência da Marinha Americana havia
interceptado uma mensagem do submarino japonês que torpedeara o Indianapolis, na qual os nipônicos relatavam como tinham afundado um navio de guerra americano, ao longo da rota seguida pelo Indianapolis,
mas a mensagem foi considerada como sendo um truque para atrair os
barcos salva-vidas americanos à uma emboscada. Nesse ínterim, os
náufragos aprenderam que tinham melhores probabilidades de sobreviver se
ficassem em grupo, de preferência, no centro do grupo. Os homens nas
bordas eram os mais suscetíveis aos ataques dos tubarões.
À
medida que os dias se passavam, muitos sobreviventes sucumbiam ao calor
e a sede, ou sofriam alucinações que os levavam a beber água do mar,
uma sentença de morte por envenenamento de sal. Aqueles que assim
saciaram a sede, caíram na loucura, espumando pela boca, com a língua e
os lábios a inchar-se, transformando-se em figuras macabras que incutiam
ainda mais terror no coração dos que lutavam contra a morte. Eles
muitas vezes se tornaram uma ameaça tão grande para os sobreviventes
quanto os tubarões, porque na insanidade, agarravam-se desesperadamente
em um companheiro, levando a ambos para as profundezas do oceano.
Sobreviventes do USS Indianapolis sendo levados para assistência médica na ilha de Guam. Foto da Wikipédia Commons. |
Fonte: Kid Bentinho
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