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Picuí-PB: Não, não há carne na terra da carne de sol

Nos dias 15,16 e 17 de novembro acontecerá em Picuí o “XI Festival da Carne de Sol”, atração que alçou a cidade em vários programas televisivos, nas edições passadas, por obra do concurso do “maior comilão de carne de sol do mundo”. Eu não sei nessa edição 2013, mas nunca os picuienses e visitantes do evento foram brindados com a presença da rainha da festa: a carne. Explico: em todos os festivais gastronômicos – ou que assim pretendem ser –, o objeto do evento está lá, presente, pronto para ser degustado. É assim no “Festival da Cachaça e da Rapadura” de Areia: tem cachaça pra embebedar uma multidão; é assim no “Festival da Laranja e da Tangerina” de Matinhas: é laranja que não acaba mais, entre tantos outros festivais paraibanos, só para citar os que acontecem em nosso estado.


Não obstante, em Picuí é diferente. De tudo se vê nesse festival: muita gente, muitos visitantes, muita animação, muito paredão de som com suas músicas de gosto duvidoso, muito conjunto de forró plastificado, muito discurso político, muito de tudo – menos a danada da carne-de-sol. De tão boa que ela é, ela resolve não aparecer no evento, afora nos “churrasquinhos de gato” vendidos nas barraquinhas. Aí você pode perguntar: “ - O que essa criatura está dizendo? Só porque é de oposição quer botar terra?” Não, de maneira alguma; eu gosto das coisas do Nordeste, sou uma entusiasta pelas coisas do Seridó, sei de toda a história da carne-de-sol e de como a sua trajetória se deu a partir de Currais Novos e região. Mas também sei porque Picuí não oferece carne-de-sol durante o “Festival de Carne de Sol”, e tal acontece simplesmente por um motivo: nós não temos carne-de-sol, “Just like this”.

“- Como não temos carne-de-sol?”, bradou um colega meu, semana passada. “– Os marchantes picuienses abatem cerca de 150 reses por semana, Fabiana!”. Ok, amigo. Porém, eu pergunto: o fato dos bares e comércios de Picuí venderem, em uma semana, mais de 300 garrafas de cachaça fazem de Picuí a “terra da aguardente”? Por óbvio que não, simplesmente porque somos consumidores, não produzimos a cachaça que bebemos. Da mesma forma acontece com o gado abatido em solo picuiense. Alguém me indique onde existe uma fazenda de corte aqui no município. Não há. Há alguns poucos comerciantes que trazem o gado, deixam engordar um pouco e depois abatem; no entanto, a maioria das reses vem de outras regiões, são trazidas e imediatamente abatidas. Prontas para o consumo.

Picuí não é a terra da carne-de-sol. Picuí é, sim, a terra que inventou a melhor receita de carne-de-sol do planeta! Picuí é a terra dos proprietários de restaurantes de carne-de-sol. Picuí é a terra de Marilene e Paulo Henriques, dois empreendedores que, nos idos da década de 1980, desbravaram este filão e, a partir dessa idéia, hoje temos dezenas, senão centenas de restaurantes espalhados por esse Brasilzão de meu Deus, todos eles levando a marca de um picuiense – sem contar que grande parte dos funcionários desses restaurantes são de Picuí.

Então, apenas para pontuar: não se avexem se este ano, mais uma vez, não encontrarem a autentica carne-de-sol picuiense para degustação no “Festival da Carne de Sol”: normal, não produzimos carne-de-sol, Picuí produz empreendedores, Picuí é celeiro de homens e mulheres que não medem distância nem horizontes para vencerem na vida. Este é o nosso diferencial. No entanto, se dessa vez os clamores forem atendidos e aparecer a danada da carne, aí é simples, ninguém morde a língua não, apenas abre a boca, prova e aprova a melhor carne-de-sol do mundo.

Viva Picuí! Viva o povo de Picuí!

* FABIANA AGRA é advogada, jornalista e escritora. Atualmente está finalizando seu segundo livro, “Picuí do Seridó: século XX”. É responsável pelas páginas “Rabiscos e Paisagens” e “Falando Direito” e pelos grupos “Amigos de Picuí” e “Picuí do Seridó”, todos da rede social Facebook.


Fonte: Paraíba Geral Por Fabiana Agra

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